sábado, 5 de abril de 2008

Profissionalização das Ongs

Jornal do Commercio - 04, 05 e 06.04.08 - B-20
Idealismo ainda fala mais alto
RENATA LEITE
DO JORNAL DO COMMERCIO
A crescente preocupação com o social e o meio ambiente vem ampliando a importância do terceiro setor em todo mundo e levando-o a ser visto como um mercado de trabalho atrativo. Se, há alguns anos, organizações não governamentais (ONGs) eram locais de trabalho de militantes e ativistas, hoje esse campo atrai pessoas capacitadas em diversas áreas, preocupadas com questões sociais e ambientais, mas também com o próprio bolso. Mesmo assim, a satisfação de se trabalhar em uma causa na qual se acredita ainda fala mais alto do que o lado financeiro, já que os salários são mais baixos do que na iniciativa privada. E o voluntariado ainda é predominante.O único levantamento nacional sobre organizações sociais foi realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Grupo de Institutos Fundações e Empresas (Gife) e a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), em 2004, com dados de 2002. Mesmo defasada, a pesquisa já apontava números promissores, com quase 276 mil organizações, que empregavam 1,5 milhão de pessoas.A progressão desses números nos últimos anos pode ser deduzida por meio da pesquisa Mapa do Terceiro Setor, realizada pelo Centro de Estudos do Terceiro Setor da Fundação Getulio Vargas (FGV), em julho de 2005. O estudo ouviu 4.589 organizações cadastradas e mostrou um aumento crescente do número de organizações sociais criadas ao longo das últimas décadas. Do universo pesquisado, 481 das entidades haviam sido formalizadas entre 2001 e 2004, ante 428 entre 1991 e 2000 e 171 entre 1981 e 1990.De 3.479 organizações que responderam ao item referente à empregabilidade, se obteve um total de 143.579 pessoas envolvidas nas atividades, seja como prestadores de serviços, contratados, comissionados, voluntários ou estagiários. Os voluntários representavam 60% dos recursos humanos, seguido de funcionários (30%). Ou seja, o número de voluntários no Mapa do Terceiro Setor era quase o dobro do que o de contratados. Em relação aos cargos ocupados por esses profissionais, a maioria trabalhava na área operacional (71%), seguido de direção (14%), administração (10%) e captação de recursos (4%).Luiz Antonio Correia de Carvalho, membro da direção colegiada da Abong Sudeste e responsável pelas ações de inclusão digital da Rede de Informações para o Terceiro Setor (Rits), considera complicado ver as ONGs como mercado de trabalho. "Se pensarmos no terceiro setor como um todo, que inclui igrejas, sindicatos, partidos políticos, entre outras organizações, há grande empregabilidade. No entanto, as ONGs ainda atuam em um campo bastante confuso, sem regulamentação ou linhas de financiamento definidas. O quadro atual das ONGs é de redução de pessoal" afirma.Para comprovar o que diz, Carvalho aponta a própria Rits, onde atua. "No último ano, reduzimos nosso corpo de funcionários em mais ou menos 50%". Tal instabilidade é resultado da dependência de projetos e financiamentos para levá-los adiante. A falta de um marco legal no país que organize a participação dessas organizações nos fundos públicos e, por outro lado, exija transparência das contas das entidades, dificulta o progresso do segmento, segundo Carvalho.No entanto, isso não significa que o setor não esteja em processo de profissionalização. Esse movimento é percebido principalmente nas entidades já consolidadas, como Geenpeace e WWF. Quando estado e empresas repassam recursos, exigem também prestações de contas, que por si só demandam funcionários especializados, principalmente no setor administrativo. "Toda atividade de interesse público que ganhe escala é obrigada a combinar militância, voluntariado e algum grau de profissionalização", conclui Carvalho.Estabilidade. Com isso surgem oportunidades em diversas carreiras, como biologia, economia, administração, informática e comunicação. No entanto, os cargos podem não ser estáveis, em função da dependência de projetos. Da mesma forma, dificilmente os salários serão tão competitivos quanto os da iniciativa privada. Profissionais que buscam esse mercado geralmente almejam satisfação pessoal e, até, pontos no currículo. "As empresas querem líderes com facilidade de relacionamento interpessoal e com a sociedade, e que estejam cientes dos problemas sociais brasileiros e preocupados com eles", afirma Carvalho, que há 15 anos se dedica exclusivamente ao setor.Marcos Santana, coordenador do Instituto Terra Azul, concorda. Ele explica que um profissional que atua no terceiro setor constrói sensibilidade maior para solucionar problemas e mobilidade em diferentes realidades. Por dialogar com a comunidade, com o poder público e com entidades privadas, o profissional desenvolve a habilidade de se posicionar adequadamente diante de cada novo desafio. "Quem trabalha em ONG é multicapacitado, trabalha em campo e no escritório", resume Santana.Essa realidade de atuação no terceiro setor demanda formação específica. Uma das características que contam pontos é a articulação em diferentes esferas. Santana engajou-se no projeto da ONG quando trabalhava na área de urbanização de favelas, no governo do estado do Rio. A grande demanda por investimentos e a lentidão das ações do poder público levaram-no a iniciar um projeto social que culminaria no Instituto Terra Azul.Hoje a ONG emprega 70 funcionários, com carteira assinada, e recebe recursos de empresas como Petrobras e Unimed. Ela conta com voluntários apenas em ações de mobilização nas comunidades, mas a base do trabalho diário fica mesmo por conta dos contratados. Para ter esse quadro, se faz necessária estabilidade de projetos, e a saída encontrada pela organização foi diversificar suas áreas de atuação. Inicialmente, o foco foi mantido no meio ambiente, mas depois foram incorporadas ações de cunho cultural e de iniciação profissional.

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Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar