Valor Econômico – Brasil – 05.07.2016 – A4
Doutores brasileiros ficam mais jovens e se espalham pelo
país
Por Ligia Guimarães
De São Paulo
O número de doutores e mestres no
Brasil cresceu expressiva e consistentemente nas últimas décadas, mas ainda
está abaixo da média mundial. Os doutores brasileiros ficaram mais jovens, em
torno dos 37 anos de idade, o que é boa notícia; eles chegam mais cedo ao
mercado de trabalho e têm vida produtiva mais longa. Houve também uma
descentralização geográfica na formação dos pesquisadores: a região Sudeste
deixou de ser a única formadora de mestres e doutores do Brasil, graças à
expansão de centros acadêmicos pelo interior no país. Em 2014, o Brasil formou
50,2 mil mestres e 16,7 mil doutores, mais que em 2010, ano em que titulou 39,5
mil mestres e 11,3 mil doutores. Na comparação com 1996, o crescimento
impressiona: a expansão de títulos concedidos em mestrado e doutorado entre
1996 e 2014 foi, respectivamente, de 379% e 486%. Os dados integram um estudo
inédito do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) que será divulgado
hoje, em Porto Seguro (BA), durante a 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC). A pesquisa cruzou as bases de dados da
Rais/MTE, Coleta Capes e Plataforma Sucupira/Capes. A publicação "Mestres
e Doutores 2015: estudos da demografia da base técnicocientífica
brasileira" revela que, apesar do crescimento, o número de doutores no
Brasil ainda é baixo em relação a outros países. Em 2013, por exemplo, a média
brasileira foi de 7,6 doutores formados para cada grupo de 100 mil habitantes.
Entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), só México (4,2) e Chile (3,4) apresentaram desempenho inferior ao
Brasil. O número é bem maior em países desenvolvidos, como os Estados Unidos
(20,6), a Alemanha (34,4) e Reino Unido (41), e até mesmo em países em
desenvolvimento, como a República Eslovaca (39,1), a Estônia (17,6) e a Turquia
(11,5). "Há uma grande distância em relação aos países desenvolvidos, o
que nos incentiva a manter e expandir os investimentos", avalia a
coordenadora do estudo, Sofia Daher, que destaca, no entanto, que os doutores
precisam estar bem colocados para que a inovação chegue às empresas e eleve a
produtividade da economia. Outra novidade revelada na pesquisa é que mudou o
mapa dos mestres e doutores do país: antigamente, a maioria absoluta se formava
na região Sudeste. Em 1996, apenas São Paulo e Rio de Janeiro eram responsáveis
por 58,8% dos títulos de mestrado e 83,4% dos de doutorado concedidos naquele
ano. Em 2014, esses Estados responderam, juntos, por 36,6% dos mestres e 49,5%
dos doutores formados no país. "Isso decorre da criação de novas
universidades e campi que alcançam áreas que antes eram menos atendidas pelo
sistema de pósgraduação", afirma a pesquisadora. O número de títulos de
mestrado concedidos na região Norte, por exemplo, passou de 135, em 1996, para
1884, em 2014, um aumento de mais de 1200%. No doutorado, os títulos foram de
21 para 301. "A criação de um grande número de universidades no interior
que é um fator fundamental de democratização do desenvolvimento", diz
Antonio Carlos Filgueira Galvão, diretor do CGEE, que é economista de formação
e especialista em desenvolvimento regional. "Um dos grandes dramas dos
municípios menos desenvolvidos era que tudo estava na capital", diz. Em
2014, a idade média dos titulados em mestrado e doutorado era, respectivamente,
32,3 e 37,5 anos, o que representa uma queda que acontece lentamente há 19
anos. Desde 1996, a idade média dos mestres caiu aproximadamente um ano,
enquanto que a dos doutores foi reduzida em de 2 anos. O indicador é importante,
de acordo com o estudo, porque mede o custo do pesquisador para o país.
"Determina qual é o tempo de vida útil ao longo do qual esses
profissionais darão suas contribuições para a economia e a sociedade", diz
a publicação. A publicação do CGEE analisou também como os mestres e doutores
se inseriram no mercado de trabalho por seis anos consecutivos. A taxa de
emprego formal de mestres e doutores mantevese estável entre 2009 e 2014, em
66% e 75%, respectivamente. Já o grau de formalidade do emprego da população é
em torno de 53%, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). Aumentou também, de acordo com a pesquisa, o número de
doutores empregados em empresas, tanto públicas quanto privadas. Entre 2009 e
2014, o número de mestres e doutores empregados em empresas privadas cresceu
9,8% e 11,7%, respectivamente. O mercado de trabalho absorveu mais doutores do
que mestres, conforme sinalizam as taxas médias de crescimento anual de
doutores (11,3%) e mestres empregados (9,9%). "Não é tão fácil demitir
esse profissional, não é fácil substituilo", diz Galvão. Nas empresas
estatais, o crescimento no mesmo período foi de 9,3% e 9,7%. "Precisa
crescer mais. A maioria dos doutores ainda está nas universidades e no setor
público", diz Sofia, que diz esperar que o ajuste fiscal não interrompa a
trajetória de expansão da pósgraduação no país. "Já vivemos outras crises
e isso não ocorreu", afirma a pesquisadora.