sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Artigos sobre Enem, Vestibular, Carreiras etc.

Revista Carta Capital, 10/09/2010
O Enem na berlinda
Para Maria Luiza Abaurre, ex-formuladora de questões da Unicamp, a concepção da avaliação se perdeu quando o exame passou a ter função também de vestibular
Fernando Vives
O Enem tem o mérito de exigir que o estudante desenvolva articulação textual, o que, na prática, significa aprimorar sua própria forma de se expressar. Mais que isso: uma prova de vestibular que foca na interpretação de textos fará com que estudantes mais dispostos a questionar e argumentar cheguem ao Ensino Superior e ao mercado de trabalho. No entanto, utilizar o Enem como forma de avaliação do Ensino Médio e também como vestibular é um erro, uma vez que as provas possuem focos diferentes e, portanto, deveriam também ter diferentes estratégias.
Quem afirma isso é alguém que passou por duas grandes revoluções no vestibular brasileiro e conhece do riscado. Além de observar as mudanças hoje provocadas pelo Enem, a professora Maria Luiza Abaurre, formada em Letras e mestre em Teoria Literária pela Unicamp, era corretora de provas quando, em 1986, a Universidade de Campinas deixou a Fuvest para selecionar os alunos por meio de provas dissertativas que focavam a redação e a capacidade do aluno em argumentar. Durante 1992 e 1996, foi uma das responsáveis pela banca elaboradora de provas da Língua Portuguesa, aproveitando a experiência de lecionar no Ensino Médio de Campinas, cidade onde vive. Maria Luiza foi, também, assessora do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anisio Teixeira (Inep). Atualmente é coordenadora pedagógica de um colégio em Campinas, além de escrever livros didáticos para a Editora Moderna, entre os quais uma série sobre o aprendizado de gramática, produção de texto e literatura. Nesta entrevista ao jornalista Fernando Vives, Maria Luiza fala sobre os prós e os contras do Enem, comenta suas mudanças, e avalia como a ênfase no ensino de interpretação textual vai impactar a sala de aula.

O Estado de São Paulo, 22/09/2010 - São Paulo SP
MEC revisa graduações e reduz variedade de cursos de Engenharia
Lilian Primi, Mariana Mandelli
Revisão dos cursos de graduação feita pelo Ministério da Educação (MEC) reduzirá a variedade dos cursos de Engenharia oferecidos pelas universidades e faculdades do País. Atualmente há mais de 200 nomes diferentes de cursos, alguns bastante especializados, como Engenharia de Automação Empresarial e Engenharia de Petróleo e Gás. O processo de revisão está em andamento e, por enquanto, o número de cursos caiu para 53. A mudança está provocando polêmica entre o ministério, especialistas e representantes de instituições de ensino superior, que afirmam não terem sido consultados. Eles acusam o ministério de querer engessar o mercado. "Concordamos que há um exagero no número de cursos criados e muitos realmente não justificam ter um novo nome, mas a forma como isso aconteceu está errada", diz o presidente da Associação Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge), João Sérgio Cordeiro.
Cordeiro diz que os avanços tecnológicos, cada vez mais rápidos, criam novas profissões e exigem a abertura de cursos. "As universidades precisam ter agilidade para acompanhar essa evolução. Além disso, há casos em que a diferenciação é necessária e isso não foi considerado, e outros ainda em que a intervenção fere a legislação. Quem fez esse trabalho não entende do mercado", completa. Responsável pela Secretaria de Ensino Superior do MEC (Sesu), Maria Paula Dallari Bucci contesta a afirmação. "Eles estão desatualizados. Houve uma consulta pública e dela tiramos uma lista que foi usada como subsídio para o cadastro do e-MEC", rebate. O e-MEC é um sistema eletrônico de cadastramento dos cursos que foi implementado em 2007 e é, atualmente, o único acesso para cadastros dos cursos de graduação no País.
A lista de engenharias que está hoje no e-MEC conta com 53 tipos diferentes de cursos. Constam no cadastro, considerando todas as instituições do Brasil, 1,3 mil cursos de Engenharia. Segundo Maria Paula, a mudança facilitará também a avaliação dos cursos. "Muitas instituições usam um nome novo para fugir do Enade e escapar da avaliação." O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) avalia o rendimento dos alunos de cursos de graduação. O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Alvaro Prata, concorda. "A revisão é necessária. Precisamos padronizar e ter uma referência. Muitas instituições privadas têm usado esse artifício para evitar um comprometimento com o sistema de avaliações", afirma. "Desse jeito, não há como averiguar a qualificação desses cursos."
Mas, por outro lado, as universidades devem ter asssegurado o direito de inovar, argumenta Prata. "Qual engenharia queremos para o futuro? É essencial que as instituições reconhecidas não percam a capacidade de inovação, pois elas precisam agregar os valores da modernidade." Organização e concorrência. Com a revisão dos nomes, o objetivo do governo é unificar a base de dados do e-MEC. A secretária do MEC diz que a unificação manterá a consistência dos cursos e limitará aventuras inconsequentes. "A instituição que não concordar com a exclusão do nome pode enviar uma contestação com uma justificativa para o uso de um novo nome. Se for consistente, aprovamos o novo nome", explica. O cadastro atual do e-MEC lista as denominações já consolidadas. "As atualizações serão constantes a partir de agora."
Especialistas em ensino superior dividem opiniões sobre a reformulação. Para o consultor educacional Ryon Braga, a ideia do MEC é positiva. "O Brasil está na contramão em relação ao resto do mundo. No exterior, as graduações são generalistas, com tempo mais curto, não chegam a esse nível de profundidade. Temos uma cultura errada de um bacharelado que é muito especializado", opina. "A revisão vai facilitar a vida dos estudantes e vestibulandos." Já o consultor Carlos Monteiro pensa que a padronização vai minar a concorrência de mercado. "Se os nomes, currículos e laboratórios forem iguais, qual será o diferencial de um curso para o outro?", questiona. "Vai facilitar a vida do MEC e complicar a das instituições." Posição semelhante tem o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp). "Criar um catálogo de cursos, como o MEC fez com os cursos tecnológicos, é engessar o mercado", defende José Roberto Covac, do departamento jurídico do Semesp. "Isso fere a autonomia das universidades e restringe a criatividade das instituições."
PARA LEMBRAR: Brasil sofre com escassez de engenheiros - Um levantamento feito pelo Estado revelou que, entre os 589 cursos autorizados pelo Ministério da Educação entre julho de 2008 e agosto de 2009, apenas 13% eram de Engenharia. Nem mesmo as novas universidades públicas colaboraram muito para o crescimento das vagas: entre os 283 cursos que estão sendo ofertados pelas 12 novas federais, apenas 52 são de Engenharia. Falta de profissionais para ensinar e o alto custo da criação de laboratórios inibe instituições privadas, que preferem se dedicar a áreas mais simples, como Pedagogia, Administração ou Direito. Desde 2002, o número de vagas disponíveis em cursos de Engenharia cresceu 40%. Parece muito, mas o patamar de partida era baixo. Em 1991, enquanto Direito já tinha 35 mil vagas nos vestibulares, Engenharia mal passava de 5 mil. Hoje, todos os cursos de Engenharia no País somam pouco menos de 120 mil vagas, excluindo os tecnólogos.
GLOSSÁRIO - Credenciamento - Para iniciar as atividades, as instituições devem solicitar credenciamento ao MEC, feito a partir da análise documental e avaliação in loco. Recredenciamento - Ao final de cada avaliação do Inep, as instituições devem solicitar a renovação do credenciamento junto ao MEC. Autorização de abertura de cursos - Universidades e centros universitários são instituições autônomas e não precisam de autorização para abrir cursos (exceto de Medicina, Odontologia, Psicologia e Direito). As faculdades têm de requerer autorização. Reconhecimento - Quando a primeira turma do curso faz de 50% a 75% da carga horária, a instituição deve pedir o reconhecimento.

Folha de São Paulo, 23/09/2010 - São Paulo SP
Enem substitui vestibular em 92 mil vagas de federais

Das 59 universidades, 23 usarão o exame do ensino médio como etapa única. Todas as federais usarão Enem de alguma forma, por exemplo, para compor pontuação final do candidato
PATRÍCIA GOMES / ANDRESSA TAFFAREL DE SÃO PAULO
Mesmo com problemas como vazamento e adiamento, ocorridos após sua reformulação, no ano passado, a influência do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) não para de crescer. Levantamento feito pela Folha nas 59 universidades federais e com dados dos 39 institutos federais mostra que mais de 92 mil vagas serão oferecidas exclusivamente com a nota do Enem, sem que o aluno precise fazer outras provas. A projeção é que, em 2011, essas instituições tenham ao todo 235 mil vagas, a serem preenchidas também por outros processos seletivos. A substituição total do vestibular pelo Enem ocorre de duas maneiras. Na primeira, majoritária, as universidades aderem a um sistema integrado que seleciona os alunos para cursos de todo o país, exclusivamente usando o Enem. Na segunda, as instituições fazem um ranking próprio da nota do Enem entre os candidatos. No ano passado, foram apenas 47 mil vagas oferecidas por este sistema integrado, chamado Sisu e criado pelo Ministério da Educação. "Se não tivesse ocorrido o vazamento, o Enem estaria ainda mais forte", disse o consultor Rudá Ricci.
MAIS VAGAS - Das 59 federais, 23 usarão o Enem como etapa única, mas todas vão utilizar a nota de alguma forma, por exemplo, pontuação na nota final. As que vão usar mais timidamente são as que optaram apenas para preencher vagas remanescentes, como UnB (Brasília) e Ufal (Alagoas). Como algumas universidades federais ainda definem a abertura de cursos para o próximo ano, o número de vagas disputadas por meio do Enem deve crescer. É o caso da UFABC (federal do ABC), que confirmou que 100% de suas vagas serão preenchidas pelo sistema integrado do MEC, mas ainda não definiu quantos postos terá em 2011. Em São Paulo, a principal adesão foi da UFSCar (federal de São Carlos). Em junho, o reitor Targino de Araújo Filho deu como motivo para abandonar a prova própria a perspectiva de poder abrir as portas da universidade para estudantes de todo o país.
SEM ADESÃO - A maior parte das instituições que não usaram o Enem de nenhuma forma no ano passado, mas que passam a utilizá-lo agora, alegaram falta de tempo hábil para terem participado da primeira edição do sistema integrado. Uma das universidades que apresentaram a justificativa foi a UFMG (de Minas), que passou a usar o exame como primeira fase de seu processo seletivo. O surgimento de novas vagas, seja pela criação de cursos em instituições que já aderiam ao Sisu seja pela criação de novas universidades -como Unilab e Ufopa (Oeste do Pará)- também ajudam a explicar o aumento desse número. Especialistas ouvidos pela Folha atribuem esse aumento ainda a razões políticas, como moeda de troca para liberação de verbas do Reuni (programa do governo federal que expande as universidades federais), e financeiras- porque é mais barato e simples "terceirizar" para o governo federal a organização e a execução do processo seletivo. Procurado, o Ministério da Educação não quis se pronunciar. Colaborou THIAGO AZANHA


Folha de São Paulo, 23/09/2010 - São Paulo SP
"Tendência é vestibular ser eliminado"
No entanto, Enem ainda precisa ser aperfeiçoado, afirma reitor da UFMG, que adotou parcialmente o exame. De acordo com docente, MEC não pressionou universidade para que a prova tradicional fosse substituída pelo Enem
DE SÃO PAULO
Entre as universidades que aderiram parcialmente ao Enem, a UFMG (federal de Minas) é uma das maiores. Para o vestibular deste ano, a instituição teve mais de 70 mil inscritos para cerca de 6.000 vagas, porte semelhante ao da Unicamp. Em entrevista à Folha, o reitor da UFMG, Clélio Campolina, disse que a tendência é que, no futuro, o vestibular seja abolido.

Folha - Como foi que a universidade decidiu usar o Enem?
Clélio Campolina - Primeiro, a UFMG não usou o Enem da vez passada porque não houve tempo legal. O nosso estatuto exige que o edital do vestibular tenha que ser divulgado com seis meses de antecedência. Mas nós avaliamos que o Enem é um grande avanço.

Em que sentido?
Todo país desenvolvido tem um exame nacional que faz uma avaliação do ensino médio. Todos nós sabemos que o ensino médio não está bom, que o ensino fundamental não está bom, mas não temos um critério de medida uniforme. Portanto, achamos que isso é um avanço em termos de avaliação do ensino médio, é uma democratização para o ingresso na universidade e a gente espera que, algum dia, o vestibular seja eliminado como critério de seleção para ingresso na universidade.

Na UFMG ou genericamente falando?
Estou falando genericamente. Acho que o país, em algum momento, vai ter que eliminar o vestibular. Isso não pode ser feito de imediato. A UFMG está adotando o Enem como critério da primeira etapa do vestibular. A segunda etapa ainda continua sendo o exame especifico da UFMG. Vamos avaliar os resultados do Enem para que a gente possa discutir medidas para o futuro.

Nesta semana a UFMG divulgou a relação candidato/vaga do vestibular 2011. Medicina tem mais de 54 candidatos por vaga. Para selecionar candidatos em carreiras concorridas, o Enem é uma ferramenta suficiente?
Isso [acabar com o vestibular] é para o futuro. Vamos ter que aperfeiçoar o Enem para que ele realmente forneça elementos suficientes para a seleção. Isso é o desejo de um processo a longo prazo.

O MEC incentivou a adesão de alguma forma?
É óbvio que o MEC estava desejoso que o Enem fosse utilizado. Se o exame não for aceito pela comunidade, ele não se legitima. Mas nós não tivemos nenhum benefício, não sofremos nenhuma pressão. Foi uma decisão soberana do nosso conselho universitário. (PATRÍCIA GOMES)


Folha de São Paulo, 23/09/2010 - São Paulo SP
Enem se tornou o maior "vestibular" do Brasil
MATEUS PRADO ESPECIAL PARA A FOLHA
O Enem passou a ser o maior "vestibular" do Brasil. E isso acontece mesmo com a enorme quantidade de erros e confusões ocorridas depois que o MEC anunciou o exame como seleção para vagas em universidades públicas. As cerca de 92 mil vagas oferecidas só com a nota do Enem representam dez vezes o que dispõe anualmente a USP, que tem o maior vestibular do país. Isso contando só as vagas do final do ano. Se somarmos o Sisu [seleção integrada de vagas em universidades públicas] no meio do ano e as bolsas distribuídas pelo ProUni, o número é ainda maior.

Não é muito difícil entender os motivos de termos o dobro de vagas em relação ao ano passado. O governo federal abriu novas universidades neste ano e o Reuni, programa do MEC, criou mecanismos que fizeram com que as universidades antigas abrissem mais vagas, todas em cidades distantes de seu campus central. Além disso, a direção de várias federais está ligada ao ministério. Soma-se a tudo o voto de confiança que elas estão dando ao MEC. Quais são as consequências disso? A mais importante é colocar na pauta a questão da universidade pública. Todo ano, na época da seleção de alunos, temas como o número de vagas, o sistema de cotas e a qualidade do ensino estarão em discussão na imprensa e na sociedade. Para completar, o MEC passa a ter em suas mãos ferramentas para direcionar as políticas públicas de acesso ao ensino superior público e de reforma do ensino médio.

Registre as histórias, fatos relevantes, curiosidade sobre Paulo Amaral: rasj@rio.com.br. Aproveite para conhecê-lo melhor em http://www2.uol.com.br/bestcars/colunas3/b277b.htm

Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar