terça-feira, 23 de setembro de 2008

Avaliação econômica de projetos sociais

A introdução da lógica empresarial na avaliação de projetos sociais garante eficiência, transparência e aprimora a gestão dos recursos. A relação entre o custo do projeto e o seu retorno social é observada.

Jornal do Commercio - Gerência -23.09.08 - B-20
Gestão para o social
VINICIUS MEDEIROS
DO JORNAL DO COMMERCIO
No início deste ano, Vânia Queiroz recebeu a confirmação de que participaria do programa "Avaliação Econômica de Projetos Sociais". A princípio desconfiou e considerou impossível implantar a nova metodologia no Ballet de Santa Teresa, instituição social gerida por ela, que atende crianças e adolescentes em áreas de risco social no bairro carioca de Santa Teresa. Hoje, Vânia olha para trás e vê que todo o esforço foi válido. Por meio da avaliação econômica de seu projeto, pôde compará-lo a outros e, mais ainda, melhorá-lo. "Foi a confirmação de que podemos oferecer um futuro promissor para esses jovens. É isso que importa", argumenta.Lançado em 2004 pela Fundação Itaú Social, o programa "Avaliação Econômica de Projetos Sociais" foi desenvolvido para levar a expertise da instituição na área econômica à gestão de projetos sociais. Já foram capacitados cerca de 240 gestores. O curso atua em dois focos: avaliação de projetos sociais próprios da Fundação Itaú Social e de organizações parceiras, e disseminação de métodos de avaliação econômica, por meio de seminários e cursos. "A avaliação não é para dizer se uma instituição é boa ou ruim. Pelo contrário, ela serve para aperfeiçoá-la. Esse é nosso maior objetivo", afirma Ana Beatriz Patrício, diretora da Fundação Itaú Social.mensuração. De fato, o programa oferece a chance, para os gestores de projetos sociais, de conhecerem seu trabalho mais a fundo. Ana Beatriz acredita que ele é essencial para que os agentes sociais e a sociedade conheçam o real impacto das ações. "Isso possibilita medir a eficiência e identificar as fragilidades, o que ajuda na tomada de decisões. É uma prática que dá transparência e aprimora a gestão dos recursos, estimulando inclusive a ampliação dos investimentos na área social", afirma.Para Naercio Menezes, consultor do programa, uma boa gestão é importante para qualquer tipo de empreitada. No universo dos projetos sociais, onde as dificuldades são maiores do que em muitos competitivos mercados, ela se torna fundamental. "Como se trata de algo relativamente novo, os recursos no terceiro setor ainda são escassos. Todo real investido deve ter um retorno econômico relevante, caso contrário desperdiça-se uma verba que poderia ser usada em outros projetos. Então, se queremos realmente impactar a educação, saúde e diminuir a desigualdade de renda, devemos ter instituições bem geridas e avaliadas. É como numa empresa: quanto melhor administrada, mais eficientes são seus resultados", defende.Menezes acredita que uma boa avaliação também separa o joio do trigo, pois gera informações úteis para as empresas e fundações que apóiam instituições. "Se você souber quais os projetos que realmente funcionam, é possível direcionar recursos para os que possuem melhores resultados, o que aumenta a rentabilidade dos mesmos e, por conseguinte, das empresas que neles investem", argumenta. Ainda assim, com tantos bons exemplos espalhados pelo País, é difícil identificar as instituições corretas. E nessas horas, o que fala mais alto: o retorno para a sociedade ou o lado financeiro?Segundo o consultor, a melhor saída é encontrar um meio termo. "O gestor deve avaliar bem o impacto do projeto, bem como seu retorno econômico. Você tem que saber se ele está efetivamente mudando a vida das pessoas e, mais ainda, quanto custa para atingir esse objetivo. Por isso, a relação entre custo e benefício deve ser observada", afirma. Para Menezes, seguindo essa cartilha, empresas e instituições que mantêm programas sociais alcançam balanços sociais favoráveis. "Não tenho dúvidas de que a avaliação econômica é um grande acréscimo para a visibilidade das empresas e das instiuições por elas apoiadas".Sucesso. Vânia Queiroz pôde viver isso de perto. Criado em 1999, o Ballet de Santa Teresa atende atualmente 130 jovens entre 3 e 18 anos, moradores de comunidades carentes do conhecido bairro carioca. Ao longo de dois meses de pesquisa, Vânia constatou que seu trabalho à frente do Ballet de Santa Teresa estava no caminho certo. Mais ainda, ela também viu onde podia melhorar. "A metodologia consiste na coleta de informações e comparação com dados de um grupo de controle, formado por crianças da mesma localidade e com uma condição social semelhante", explica.Segundo Vânia, o cruzamento de informações ratificou um feed-back obtido através de alguns alunos já formados. "Não posso negar que eles foram surpreendentes. Nossas crianças, todas indicados para o projeto por inicialmente apresentarem dificuldade no aprendizado, mostram atualmente um desempenho escolar melhor do que o grupo de controle". Os bons resultados não pararam por aí. Por meio da avaliação, ela também observou o principal benefício oferecido pelo Ballet de Santa Teresa: a conclusão do ensino médio."Pela primeira vez pude mensurar o real retorno do projeto. Tenho, hoje, uma ex-aluna cursando engenharia de petróleo e gás na Universidade Federal do Rio de Janeiro e outra fazendo relações internacionais na mesma instituição, além de mais uma que é funcionária concursada do Ministério Público. Mais ainda, das minhas primeiras turmas, todas que permaneceram por mais de três anos conosco, concluíram o ensino médio. Por isso o elegemos como o grande diferencial para a gente, pois essa formação poderá levá-los ao mercado de trabalho e a melhores salários", afirma.Ela também conta um exemplo que ilustra exemplarmente os benefícios oferecidos aos seus alunos. "Há alguns anos tivemos três irmãs que vieram para o balé entre a adolescência e pré-adolescência. Três alunas criadas na mesma casa, pela mesma família. Das três, duas permaneceram conosco por mais de três anos. Uma delas já está na faculdade, a outra está concluindo o ensino médio e a terceira, que abandonou o projeto, está desempregada e grávida de um traficante. Esse é tipo de retorno que não tem preço", revela.

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Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar