segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Migração das escolas tradicionais para ensino bilingue

Em 7 anos, Grande SP ganha 20 bilíngues

Já nas escolas mais antigas, para cada estudante matriculado, há outro na fila de espera por uma vaga
GUILHERME VOITCH / LUCIANO BOTTINI FILHO / RAPHAEL MARCHIORI / RAPHAEL SASSAKI / RODNEI CORSINI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A turma se reúne ao lado da professora, que mostra imagens de animais típicos brasileiros. As crianças, com idades entre três e quatro anos, apontam os bichos e pronunciam seus nomes. Algumas se abraçam, deitam no colo da professora e riem. Seria uma típica aula de ensino infantil não fosse pelo idioma: a comunicação é toda feita em inglês. A cena, presenciada em uma das escolas bilíngues da Grande São Paulo, é cada vez mais corriqueira. Nos últimos sete anos, cerca de 20 instituições desse tipo foram abertas em São Paulo e na região metropolitana, segundo levantamento da Folha.

Os colégios bilíngues oferecem o ensino de um segundo idioma -predominantemente o inglês- da maneira que os especialistas chamam de "imersão". A língua é utilizada em todos os momentos: das aulas à fila do lanche. "É no ensino infantil que as crianças estão mais preparadas para aprender uma segunda língua", diz Alexandre Feldman, especialista na área. Essa base é complementada no fundamental e no médio, quando o aluno aprende disciplinas como matemática e química no segundo idioma. O acesso a outro idioma não é o único diferencial da educação bilíngue. Nas escolas desse tipo, as crianças aprendem a conviver com diferenças desde cedo. Como os colégios atraem muitos estrangeiros, é comum que os alunos tenham colegas de diversas partes do mundo. Nas grandes instituições bilíngues e internacionais, não se vê uma sala sem no mínimo uma criança nascida em outro país. A escola americana Graded (Morumbi), a primeira internacional de São Paulo, tem alunos de 35 nacionalidades.

INTERNACIONAIS - Nos colégios internacionais, as diferenças vão além da língua. Segue-se o calendário e o currículo de outro país, permitindo ao aluno sair com um diploma brasileiro e outro estrangeiro. Diferentemente das bilíngues, porém, a abertura de escolas internacionais está estagnada. Criados para receber filhos de estrangeiros e de diplomatas ou executivos que mudam muito de país, hoje esses colégios atendem na maioria brasileiros interessados na fluência em um segundo idioma. Por isso, passaram a se preocupar mais com o vestibular brasileiro, já que grande parte dos alunos não pretende cursar faculdade fora. Mesmo sem crescer, a demanda por essas escolas continua alta. Para cada aluno matriculado, as escolas internacionais costumam ter outro na fila de espera -e isso com mensalidades custando a partir de R$ 2.000.



Folha de São Paulo, 26/09/2010 - São Paulo SP

Escolas tradicionais se tornam bilíngues

Colégios contam com a ajuda de consultores externos ou adquirem licenças de programas que já existem
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para atender aos pais e alunos que querem uma boa formação no inglês, escolas tradicionais estão criando ou adotando programas bilíngues em seus currículos. Nessa mudança, os colégios contratam consultores ou adquirem licenças de programas já existentes. O colégio francês Emilie de Villeneuve, na Vila Mascote, fundado em 1955 pela congregação Irmãs Azuis, iniciou o ensino bilíngue em inglês e português em 2008. Antes obrigatórias, as aulas de francês viraram opcionais para dar mais espaço para o inglês. "Acompanhamos nosso tempo, e esse idioma é obrigatório", diz a diretora Luiza Cesca, a irmã Solange. A proposta contou com consultoria do colégio Playpen (Morumbi), um dos primeiros bilíngues da cidade. Hoje, o Emilie de Villeneuve oferece a educação bilíngue a 168 alunos do infantil e do fundamental. No total, a escola tem 1.456 alunos.

SYSTEMIC - Fundado em 1959, o colégio Friburgo/Casinha Pequenina (Granja Julieta) adotou neste ano o Systemic Bilingual. Criado pelas irmãs alagoanas Vanessa e Fátima Tenório, o sistema ensina inglês por meio de temas interdisciplinares -como dinossauros ou sistema solar. A carga do idioma estrangeiro no Friburgo é dada em cinco horas semanais de aulas, o que rende ao colégio o caráter de semibilíngue, segundo o Systemic. Antes de adotar o programa, o colégio passou a dar aulas de inglês com professores de um curso externo. Mas, para a direção, o sistema implantado agora foi o que deu melhor resultado. Em 2005, após 45 anos da sua fundação, o colégio Rio Branco -com unidades na capital e na Grande SP- adotou um currículo onde os alunos têm um terço da carga horária em inglês. Nas salas, há um professor regente, que ensina o conteúdo regular, e um polivalente bilíngue, que introduz o vocabulário em inglês a partir do conteúdo dado. "Oferecemos a interação com o inglês sem desprezar a cultura-mãe", diz Renata Condi, coordenadora de línguas estrangeiras. (RAPHAEL MARCHIORI, RAPHAEL SASSAKI e RODNEI CORSINI)

Folha de São Paulo, 26/09/2010 - São Paulo SP

É difícil achar bons professores, dizem colégios

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Faltam professores bem preparados para atuar em escolas bilíngues." A declaração de Helena Whitelock, 40, professora de ensino bilíngue há 15 anos, traduz a dificuldade dos diretores para encontrar bons profissionais. No cenário atual, as vagas são ocupadas preferencialmente por pedagogos. "Eles são especialistas na formação da criança, mas geralmente não têm sensibilidade para a aquisição da linguagem", diz Marina Freitas Silva, diretora da My School, na Pompeia. Também há espaço para graduados em letras, que, por lei, só podem dar aulas do segundo idioma na educação infantil. São profissionais formados para a aquisição da linguagem, mas que, por outro lado, não têm formação específica para o desenvolvimento infantil. Para suprir essas carências e trabalhar a alfabetização no contexto bilíngue, escolas como a Cidade Jardim/Playpen (Morumbi) e a Red Balloon do Pacaembu criaram seus próprios centros de formação de docentes. Antes de matricular as crianças, os pais devem se certificar sobre a fluência dos professores. "O bilinguismo não permite arestas no ensino do segundo idioma", diz o doutor em letras Alexandre Feldman. (RAPHAEL MARCHIORI, LUCIANO BOTTINI FILHO e GUILHERME VOITCH)





Folha de São Paulo, 26/09/2010 - São Paulo SP

Convênio traz "high school" ao Brasil

Sem sair do país, o estudante pode cursar o ensino médio norte-americano e se formar com dois diplomas
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sem nunca ter estudado no exterior, Lucas Terrafino, 14, poderá sair do ensino médio, em 2013, com os diplomas brasileiro e americano. Isso porque o Pio XII (Morumbi), onde estuda, tem o "high school" (ensino médio norte-americano) aliado ao currículo brasileiro. O programa é chancelado pela universidade Texas Tech e tem disciplinas como oratória, governo, economia e história americanas. Entre 2009 a 2010, cinco escolas na Grande São Paulo passaram a ter o curso conveniado à universidade texana -Pentágono de Alphaville, Dante Alighieri, Magno, São Miguel do Arcanjo e Pio XII. Outro curso "high school" na cidade, ligado à escola americana Keystone, existe desde 1999 na rede Pueri Domus. As matérias são dadas em inglês, mas a realidade brasileira não fica de lado.

"Os alunos estudam o governo local e, em oratória, fazem um discurso no papel de prefeito de São Paulo", exemplifica Rogério Abaurre, coordenador nacional do "high school" da Texas Tech. No Brasil, o exame para entrar no "high school" da universidade texana tem cerca de 70% de reprovação. "A maioria dos aprovados fez cursos de inglês por cinco ou seis anos. Mas, além disso, são alunos leitores, que se aplicam mais", diz Abaurre. Em São Paulo, a mensalidade nas escolas com programas "high school" custa de R$ 1.400 a R$ 3.500. Segundo a CI -agência de cursos no exterior-, fazer o "high school" nos EUA sai por ao menos R$ 20 mil o semestre, com alimentação e estadia incluídas. (RODNEI CORSINI)





Folha de São Paulo, 26/09/2010 - São Paulo SP

Aula em inglês exige um ensino integral

Lei determina que currículo básico seja em português, por isso aulas no segundo idioma demandam período extra

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No ensino fundamental bilíngue, escrever na lousa "circulatory system" e "geometry" para ensinar disciplinas como biologia e matemática pode ter um preço: os alunos têm de passar mais tempo na escola. O aumento da carga horária é consequência da lei que exige que o currículo básico seja dado em português. Logo, as escolas bilíngues recorrem ao período estendido ou ao regime integral para ensinar em duas línguas. A grade pode ser montada de duas formas. Na primeira opção, a mesma disciplina é ensinada nos dois idiomas, mas sem repetir o conteúdo (currículo integrado). Na outra, o uso da língua estrangeira fica restrito às disciplinas que não fazem parte do currículo obrigatório, como música e teatro (currículo complementar).

A segunda opção, segundo Selma Moura, especialista em educação bilíngue, ainda é a mais comum. "Mas não é a mais recomendável", afirma. Se a criança já tem vocabulário satisfatório no segundo idioma, o currículo integrado é o mais indicado, de acordo com linguistas e educadores consultados. "O foco depende da escola, mas o uso do inglês apenas em disciplinas não obrigatórias não deve ser considerado bilíngue", diz Heloísa de Mello, professora da Universidade Federal de Goiás. (LUCIANO BOTTINI FILHO, RAPHAEL MARCHIORI E RAPHAEL SASSAKI)


Folha de São Paulo, 26/09/2010 - São Paulo SP

Internacionais se preocupam com vestibular do Brasil
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Todo final de ano letivo nas escolas internacionais, as turmas do último ano do ensino médio dividem-se. Metade aproveita as vantagens do diploma estrangeiro e segue para estudar fora. Outra parte fica e tenta entrar em faculdades brasileiras. Marina do Nascimento, 17, estudante da Chapel School (Chácara Flora) é da turma que pretende estudar fora. A seu favor, ela tem o currículo norte-americano e as aulas de IB (leia mais ao lado). "Estou selecionando cartas de recomendação dos professores e desenvolvendo uma tese sobre "slam poetry" (competição de poesia)."
Caio Augusto Rios Feola, 17, quer ser médico e decidiu ficar no Brasil. Vai prestar USP, Unicamp e UFRJ. Ele também cursa o IB. Como optou pelo vestibular brasileiro, Caio acredita que um reforço em história, geografia e literatura brasileiras pode ser necessário, por isso vai fazer mais aulas dessas disciplinas. "O conteúdo foi passado, mas talvez tenhamos que focar em como ele cai no vestibular", afirma. Tanto na Chapel quanto na também americana Graded (Morumbi), o aluno pode escolher o foco que quer dar à sua formação no ensino médio. "Não deixamos de lado as disciplinas do currículo brasileiro e ainda temos aulas que contemplam conteúdos de interesses específicos", diz Lika Kishino, coordenadora de comunicação e de ex-alunos da Graded. (GUILHERME VOITCH)



Folha de São Paulo, 26/09/2010 - São Paulo SP

Escola que não vira bilíngue amplia inglês

Alternativas mais comuns são expandir a carga horária do idioma ou usá-lo em atividades extracurriculares
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sem oferecer um ensino tão intensivo quanto os bilíngues, alguns colégios tradicionais de São Paulo ampliaram as aulas de inglês para que os seus alunos não tenham de procurar cursos de idiomas fora da escola. "Por que não oferecer isso na própria escola?", diz Maria Claudia Martins, coordenadora de inglês da Projeto Vida, em Santana. Neste ano, a escola implantou um programa com 30 minutos de inglês ao dia para alunos de três a seis anos. Em 2011, a carga horária será expandida para mais anos do ensino fundamental. As escolas com mais aulas de inglês costumam integrar o idioma a outras atividades. "A hora do lanche e visitas a parques podem ser acompanhadas pela professora de inglês", diz Maria Claudia.

Na Móbile (Moema), o aluno pode ter até sete horas por semana de contato com o idioma no integral, que é opcional. "Essas crianças são mais desafiadas, com resultados no período regular também", diz Cláudia Amorin, coordenadora. No Vera Cruz (Pinheiros), o inglês também é dado no contraturno -tanto para alunos do colégio como para outros estudantes. "Como o curso é oferecido em outro horário, isso nos dá uma flexibilidade. No 6º ano, por exemplo, conseguimos dividir grupos de até quatro ou cinco níveis de inglês", diz Joana Guidolin, coordenadora do Inglês Vera Cruz. O colégio usa o idioma de forma interdisciplinar, com ciências, dramatização e música, da mesma forma que as escolas bilíngues. (LUCIANO BOTTINI FILHO e RODNEI CORSINI)





Folha de São Paulo, 26/09/2010 - São Paulo SP

Bilíngues que dão outros idiomas recebem cada vez mais brasileiros

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fundadas por imigrantes para seus filhos, escolas bilíngues que dão aulas em idiomas diferentes do inglês têm entre os alunos cada vez mais brasileiros sem nenhuma ligação com estrangeiros. A escola Suíço-Brasileira, no Alto da Boa Vista, é bilíngue em alemão e tem cerca de 70% de alunos de origem brasileira. Situação similar vive o Miguel de Cervantes (Morumbi). Criado por espanhóis em 1978, menos de um quarto de seus alunos tem ascendência hispânica. Apesar do predomínio de brasileiros, a identificação com o país de origem dos fundadores continua presente nesses colégios. O Cervantes, por exemplo, mantém a aula de cultura espanhola.

A OEN (Organização Educacional Nippaku), na Vila Mariana, foi fundada em 1932 como uma escola de corte e costura que preparava japonesas para casar. Hoje, tem ensino bilíngue em japonês e atrai interessados na cultura nipônica. Alguns desses colégios têm currículos que permitem que os alunos sigam os estudos fora do país. Riccardo Valente, 18, cursa o 4º ano do liceo (equivalente a um 4º ano do ensino médio) na escola italiana Eugenio Montale (Morumbi). "Já morei na Itália, onde pude fazer meus estudos normalmente", diz ele, que é o primeiro da família a ter nascido no Brasil. No Humboldt (Interlagos), fundado em 1916, as turmas para quem fala alemão ou português como primeira língua são separadas. O ensino é bilíngue, mas a alfabetização é feita, primeiro, no idioma materno do aluno. (RAPHAEL SASSAKI e RODNEI CORSINI)

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Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar