segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Movimentos do mercado de curso superior

Valor Econômico - Empresas - 25.01.2010 - B1

Educação: Em 10 anos, o número de faculdades privadas no país dobrou para 2,3 milNova onda de consolidação no ensino superior começa em 2010

Beth Koike e Paola de Moura, de São Paulo e do Rio
25/01/2010

Escala, gestão e qualidade no ensino. A combinação desses fatores tem levado instituições ao sucesso ou a sérias crises no concorrido mercado privado de ensino superior, que começa o ano aquecido (ver operação entre Kroton e Iuni nesta página). O setor pode movimentar neste ano cerca de R$ 2 bilhões em fusões e aquisições, segundo a consultoria Hoper.

Nos últimos anos, o setor de ensino superior privado mudou completamente de perfil. Até o final da década de 90, havia poucos grupos - a legislação não permitia a atuação de instituições de ensino superior com fins lucrativos. Hoje, há cerca de 2,3 mil faculdades particulares - número equivalente ao dobro de 10 anos atrás. Na Grande Florianópolis, por exemplo, havia apenas quatro faculdades em 1998. Hoje são 40.

A expansão acelerada, alimentada por aquisições, dividiu o mercado, a grosso modo, em dois: os grandes grupos, cuja estratégia é crescer comprando concorrentes, e as universidades e pequenas faculdades, que enfrentam sérias dificuldades financeiras.

Um conjunto de fatores explica esse quadro: a concorrência acirrada jogou os preços das mensalidades para baixo; a inadimplência por parte dos alunos aumentou; o endividamento das instituições com bancos e o Fisco cresceu; a superoferta de faculdades fez cair a demanda; a adoção do ensino a distância reduziu o faturamento; e, em vários casos, a gestão não profissionalizada e a falta de rigor no controle dos gastos pioraram a situação.

Em 1996, o valor médio das mensalidade era de R$ 840, caiu para R$ 510 em 2005 e ficou em R$ 457 no ano passado. A receita do setor entre 2005 e 2009 saltou de R$ 21,9 bilhões para R$ 24,9 bilhões - comprovando o processo de consolidação. "Hoje, os maiores 20 grupos educacionais detêm 32% dos alunos das faculdades particulares. Há cerca de cinco anos, esse percentual era de 19%", diz Ryon Braga, sócio da Hoper.

A concorrência tem sido tão acirrada que há instituições de ensino que se tornaram praticamente "incompráveis", observa Braga. Em suas contas, há cerca de 27 faculdades com dívidas equivalentes a 1,5 vez o seu faturamento anual. "Praticamente todas as faculdades pequenas são familiares e têm dívidas. As suas margens operacionais são baixas e ao mesmo tempo elas têm pouca capacidade de investimento, tendo que buscar socorro nos bancos", diz Ricardo Scavazza, vice-presidente operacional da Anhanguera, uma das gigantes do ensino superior no país e que fez, até agora, o maior número de aquisições, um total de 25.

O endividamento alto é detectado em instituições de diversas regiões do país. Enfrentam, ou já tiveram problemas financeiros recentes, as cariocas Cândido Mendes e Gama Filho, a gaúcha Ulbra, a mineira UNI-BH, e as paulistas Unib e São Marcos, entre outras.

O professor Cândido Mendes, reitor da universidade fluminense que leva seu nome, diz que outro fator que o levou à beira da bancarrota é a legislação, conhecida como "lei do calote", que permite ao aluno inadimplente continuar cursando a universidade durante o semestre, mesmo não pagando a mensalidade. Segundo Mendes, essa lei fez com que a inadimplência do setor subisse para 30%. "Muitos alunos que renegociam a dívida para fazer a matrícula, depois não honram o compromisso. Por isso, temos dificuldade de honrar nossos compromissos ao longo do semestre", explica o professor, que tem dívidas com bancos e aderiu ao Refis 4 para parcelar os depósitos atrasados do FGTS.

Entre as instituições de médio e grande portes de controle familiar, a grande desvantagem, em geral, é a ausência de uma gestão tão profissionalizado como a dos grupos que já abriram o capital e têm fundos de investimento por trás. Mais de 80% das faculdades médias e grandes vendidas tiveram como motivação problemas societários. "As grandes instituições são do tempo da inflação, reserva de mercado e grande demanda de alunos, época em que era fácil ganhar dinheiro com educação. Agora, o cenário é outro e exige um alto nível de gestão", diz Braga.

Passados pouco mais de 10 anos da abertura de mercado, a concorrência no setor cresce a passos galopantes. Mas a qualidade no ensino tem sofrido. O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) referente a 2008 mostra que 27,1% das instituições privadas tiveram notas 1 e 2 - consideradas ruins. A nota máxima é 5. Entre os grandes grupos consolidadores, cuja receita cresce constantemente, a nota média no Enade é de 3.

O professor Francisco Barone, da Escola de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é um dos críticos do atual cenário no ensino superior. Ele diz que vários vestibulares passaram a ser apenas "de fachada" e lembra o caso de um analfabeto que chegou a ser aprovado no Rio de Janeiro.

Mas a questão da má qualidade no ensino parece já estar incomodando os próprios alunos e algumas instituições começam a enxergar a importância de um ensino melhor. A paulistana Uniban, onde uma estudante de vestido curto causou uma confusão nos corredores no ano passado, vem atraindo menos alunos do que gostaria. "O número de alunos na Uniban vem caindo há algum tempo. Não é só devido ao caso Geisy. Lá só há três aulas por período. Com a concorrência, o preço das mensalidades é muito semelhante e o aluno acaba optando por aquela faculdade em que o ensino é um pouco menos defasado", diz uma fonte que até pouco tempo trabalhava na Uniban.

A carioca Estácio de Sá, cuja nota no Enade 2008 foi 3, reconhece o problema e está investindo parte de R$ 10 milhões para melhorar a qualidade do ensino.

"Em um futuro não muito distante, o mapa competitivo no setor já estará definido. O grande elemento diferenciador será o valor da marca, a credibilidade da instituição" diz Ryon.


Maurício de Nassau investe no Norte

Murillo Camarotto, do Recife
25/01/2010

Leo Caldas/Valor

Bezerra Diniz, da Maurício de Nassau, com sede em Pernambuco, tem o Cartesian como sócio e negocia aquisições
Em Pernambuco, apesar de um sentimento comum de insatisfação com as condições do mercado, é possível se observar situações bastante díspares entre as instituições privadas de ensino superior. Enquanto algumas crescem e se preparam para protagonizarem o inevitável processo de consolidação do setor, outras se desdobram para fechar as contas do mês e sobreviver aos novos tempos.

No rol das que crescem, chama a atenção a Faculdade Maurício de Nassau, presente em cinco Estados do Nordeste e com planos avançados para ingressar na região Norte. Atualmente com nove unidades, o grupo está prestes a abrir outras duas, em Caruaru (PE) e Fortaleza (CE). Além dessas, negocia com outras seis instituições, sendo que pelo menos três aquisições devem surgir dessas conversações, segundo contou ao Valor o presidente do conselho de administração, Janguiê Bezerra Diniz.

Segundo ele, que também preside Sindicato das Instituições Particulares de Ensino do Estado de Pernambuco (Siespe), uma das três aquisições será na região Norte, com chances para Amapá, Rondônia e Pará. As duas outras aquisições devem ser fechadas no Nordeste. A expansão da Maurício de Nassau ganhou fôlego financeiro há exatamente um ano, quando o grupo vendeu uma participação minoritária para o fundo americano Cartesian Capital, por valores não divulgados. Atualmente com cerca de 30 mil alunos, a instituição dispõe de R$ 40 milhões para seu plano de crescimento, pelo qual espera abocanhar ao menos 10 mil novos alunos.

A entrada do grupo americano no capital da faculdade acarretou em algumas mudanças no sistema de gestão. Além de se tornar uma sociedade anônima de capital fechado - há planos para que seja aberto -, a Maurício de Nassau adotou o sistema de metas para seus profissionais e passou a ser gerida por um conselho de administração composto por cinco membros.

Segundo Janguiê, a expansão é necessária para grupos que querem ser consolidadores. "Os grupos que estão capitalizados e com um bom sistema de gestão não têm outro caminho", afirma. "Os grandes grupos tendem a forçar os pequenos a serem vendidos. Em cinco anos, quase todas as pequenas terão que fazer parcerias ou aceitarem serem compradas".

Nesse cenário, a Escola Superior de Marketing, mais conhecida como FAMA, também com sede em Pernambuco, faz as contas para sobreviver. Segundo a diretora-acadêmica da instituição, Ana Carla Lemos, os tempos são de fechamento de turmas por falta de alunos. "A demanda é muito pouca para a quantidade de vagas. E as pessoas estão com pouca disposição para investir em educação", queixa-se.

Para se defender das grandes concorrentes, a faculdade, hoje com cerca de 1,3 mil alunos, aposta na qualificação dos dois únicos cursos que oferece: Publicidade e Administração de Empresas com habilitação em Marketing. A ideia é se tornar referência nesses dois campos, para que os alunos optem por cursá-los na FAMA. "Tenho que me concentrar na excelência para tentar sobreviver", diz.

A estratégia de sobrevivência, contudo, não para por aí. A gestão rigorosa dos custos pode ser vital e a faculdade faz o que pode. "Esses dias o pessoal da informática me disse que precisava atualizar alguma coisa nos computadores. Perguntei se eles estavam funcionando. Responderam que sim. 'Então vamos esse usar dinheiro em outras coisas' [, eu disse]. Infelizmente, coisas que podem ficar para segundo plano vão ficar", diz, desgostosa, a acadêmica.

Além das dificuldades mercadológicas, as instituições privadas estão vivendo um problema específico em 2010, relacionado ao vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com o atraso motivado pela realização de uma segunda prova, muitos estudantes ainda aguardam os resultados de vestibulares cujas notas são atreladas ao exame. "Isso motivou um decréscimo importante no número de matrículas", aponta Janguiê.


Kroton está mais perto de comprar Iuni

De São Paulo
25/01/2010

Após receber aporte do fundo americano Advent no ano passado, a mineira Kroton está prestes a fechar o maior negócio da área de ensino na história recente do país. A instituição, que tem como um dos sócios o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia, recebeu o sinal verde para comprar 100% do grupo matogrossense Iuni, numa transação estimada em R$ 600 milhões.

A Kroton tem até 2 de março para concluir a operação, que gerou uma disputa acirrada com os grupos educacionais americanos Laureate e Apollo, além dos fundos BR Educacional, de Paulo Guedes, e Gávea, de Armínio Fraga, além da própria Kroton.

"Estamos muito satisfeitos em sermos o escolhido. Temos crédito suficiente para adquirir o Iuni", disse ao Valor Luiz Kauffman, presidente da Kroton, executivo com passagens pelas companhias Santelisa, Vale e Medial. A Kroton tem em caixa R$ 444 milhões e registrou lucro líquido ajustado de R$ 45 milhões nos nove primeiros meses do ano passado.

O Iuni, por sua vez, encerrou o ano com lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) de R$ 72 milhões e uma receita líquida de R$ 320 milhões.

Com a conclusão do negócio, a Kroton tem nas mãos a chance de dobrar de tamanho e fincar o pé no ensino superior, uma vez que, até então, seu foco de atuação era o ensino básico com a marca Pitagorás. Se fechar a operação, a Kroton terá uma carteira com quase 100 mil universitários distribuídos em 43 campi e uma rede com 650 escolas associadas, que somam 230 mil alunos.

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Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar