quinta-feira, 18 de junho de 2009

Barcelona incentiva talentos

Barcelona atrai talentos variados com políticas firmes de incentivo
Rodrigo Amaral, para o Valor, de Madri18/06/2009

Eder Chiodetto/Folha Imagem
Parque Guell, em Barcelona: incentivos tangíveis à inovação para consolidar cidade como pólo internacional da área
Em 2006, o espanhol José Aguirre e dois amigos colombianos decidiram montar uma empresa para desenvolver soluções de visualização de informação inovadoras na internet. Mas alguns obstáculos se apresentavam ao sucesso do projeto. "Quando começamos, éramos uma empresa sem dinheiro, sem investidor, sem mercado e sem produtos", lembra Aguirre. O que os três sócios tinham mesmo era a sorte de estar em Barcelona. A capital da Catalunha já estava, então, engajada em promover atividades relacionadas à chamada economia criativa. Visando "tornar o complexo compreensível" por meio da "representação dinâmica de dados e a criação de espaços para desenvolvimento coletivo do conhecimento", a empresa Bestiario teria de ser para lá de criativa para cavar espaço.
Uma política que visa transformar o modelo de crescimento econômico da cidade aproveitando a bagagem cultural de uma cidade reconhecidamente cosmopolita. "Barcelona está repleta de estrangeiros que trabalham na economia criativa", diz Aguirre. "Há aqui um ambiente de criatividade, um viveiro de ideias e empresas. São pessoas com interesses parecidos com os nossos e com as quais é fácil entrar em sintonia." No caso da Bestiario, pelo menos, os frutos já estão sendo colhidos. Hoje a empresa trabalha para gigantes do mundo corporativo como a Telefónica, a construtora Ferrovial e o banco La Caixa, mantém um escritório em Lisboa e está se instalando em Buenos Aires. "Mais da metade das pessoas que visitam nosso site estão nos EUA", comemora Aguirre. A Bestiario é uma história de sucesso que a capital catalã espera que se transforme em uma rotina de seu mundo negócios.
Que a bela Barcelona tenha se transformado em um pólo de gente criativa e empreendedora talvez não surpreenda quem já visitou a cidade. "Barcelona é capaz de atrair o talento graças a uma qualidade de vida muito alta" afirma o economista Xavier Marcé, ex-presidente do Instituto Catalão das Indústrias Culturais, ICIC.
Mas se engana quem pensa que uma gloriosa história cultural e uma tradição de viver bem foram suficientes para assegurar a presença de Barcelona na economia criativa. Incentivos mais tangíveis à inovação vêm sendo oferecidos a fim de consolidar Barcelona como um pólo internacional da área. "A Catalunha foi uma das regiões da Espanha que tiveram mais sucesso até o momento em suas tentativas para promover a inovação", diz o economista Juan Ramón Cuadrado, um especialista em desenvolvimento das regiões espanholas da Universidade de Alcalá, nas proximidades de Madrid.
Dados do governo de Barcelona apontam que dois terços das exportações saídas da cidade são formados por bens de "alta ou média-alta intensidade tecnológica". Isso é resultado de uma série de programas que incluem a manutenção de organismos públicos que se dedicam a prestar apoio a áreas como as artes audiovisuais, o design industrial, a pesquisa farmacêutica, a informática e outras atividades baseadas no conhecimento. "Vários fatores têm colaborado com a transformação de Barcelona", diz Marcé, que hoje é vice-presidente da Focus, uma produtora cultural sediada na cidade. "Por exemplo, a gestão da cultura pública foi radicalmente transformada por meio de incentivos financeiros e a conversão de certos espaços, como antigas fábricas desocupadas, para abrigar projetos ligados à economia criativa."
As ações mais visíveis implicam a remodelação de partes inteiras da cidade para adequá-las às exigências da nova economia. Um parque tecnológico foi estabelecido no norte da cidade, e um pólo de pesquisas biomédicas hoje funciona à beira-mar. A experiência mais radical está sendo levada a cabo no bairro de Poblenou, uma antiga região industrial que cresceu muito no século 19 e hoje está sendo totalmente remodelada. Fábricas obsoletas estão sendo convertidas em galpões ao estilo que tanto agrada os profissionais criativos, que também poderão morar em algumas das 4 mil moradias que o novo bairro está projetado para receber. A área equivalente a 115 quarteirões também abrigará, ao final, 114 mil m2 de áreas verdes. A empresa pública que organiza o projeto listou uma série de "atividades @" que são bem-vindas ao bairro. Elas incluem desde universidades e editoras até fabricantes de componentes de informática e empresas de private equity.
A filosofia por trás da concentração de atividades de 22@Barcelona prevê que a interação e troca de informações entre profissionais que trabalham em áreas distintas é chave para o sucesso deste tipo de iniciativa. O jornalista madrilenho Aguirre, por exemplo, observa que seus sócios são, originalmente, um arquiteto e um matemático, e um dos mais novos contratados da Bestiario é espeleólogo, ou seja, um especialista em cavernas. O que se precisa incentivar, diz ele, é que pessoas de interesses aparentemente tão díspares se encontrem para descobrir seus pontos em comum e ter novas ideias.
Por mais avanços que Barcelona tenha conseguido até o momento, a batalha ainda está longe de ter sido ganha. A cidade continua enfrentando dificuldades que impedem o desenvolvimento da economia criativa. "O maior problema é que Barcelona não está no centro das grandes redes de distribuição", exemplifica Marcé. "Os grandes grupos de comunicação da Espanha estão em Madri, assim como as sedes das principais multinacionais." Ele observa que, por mais criativa que uma empresa seja, ela em algum momento vai necessitar de clientes e de ter acessos a mercados cada vez mais globais. E isso quase sempre se dá por meio de atores estabelecidos em processos econômicos tradicionais. "O desenvolvimento da economia criativa ainda exige uma maior proximidade dos canais de distribuição. Mesmo a internet está concentrada nas mãos de poucas empresas" conclui o economista catalão.
Fonte: Valor Econômico - Especial - 18.06-09 - F3

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