segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Plano de recuperação da Delta

Valor Econômico – Empresas - 24.08.2012 – B10




Delta apresenta plano a credores



Por Daniel Rittner
De Brasília

Para sobreviver a uma das maiores crises de imagem corporativa dos últimos anos, a Delta Construção desenhou uma proposta de pagamento aos seus credores que se estende até 2021, no âmbito do processo de recuperação judicial aceito, em junho, pela 5ª Vara Empresarial do Rio.

Os detalhes da proposta foram apresentados ao Valor pelo diretor-geral da empresa de consultoria Alvarez & Marsal, Marcelo Gomes, que comanda o plano de reestruturação da Delta. A expectativa dos credores é de que a proposta seja tornada pública, pela juíza Maria da Penha Nobre Mauro, entre hoje e segunda-feira.

Sem prever a separação da construtora em unidades produtivas diferentes, conforme foi cogitado nas últimas semanas, o plano acabou sendo bastante pragmático. "Basicamente, estamos pedindo o alongamento dos prazos aos nossos credores", disse Gomes. A empresa pede carência no pagamento da maior parte da dívida até julho de 2014, mesmo mês em que termina o prazo da declaração de inidoneidade da Controladoria-Geral da União (CGU), que a impede de participar de licitações e assinar novos contratos com o setor público.

A dívida da Delta com credores financeiros chega a R$ 170 milhões, segundo o executivo. Cerca de R$ 120 milhões, o equivalente a 70%, serão pagos a partir de agosto de 2014. O pagamento ocorrerá em parcelas mensais, ao longo de sete anos. A dívida está concentrada em quatro bancos: Bradesco, Santander, Banco do Brasil e HSBC - nessa ordem.

A construtora promete pagar o restante do débito - aproximadamente R$ 50 milhões - à medida que for recebendo o dinheiro por "serviços executados, aprovados e medidos" em contratos com o governo, segundo Gomes. Quando uma empreiteira executa uma obra para a administração pública, um auditor do governo precisa medi-la para comprovar se ela foi feita conforme o projeto contratado. Atualmente, existem contratos de R$ 140 milhões nessa situação e a juíza Maria da Penha já expediu ofício aos órgãos públicos, solicitando o depósito dos valores em uma conta sob acompanhamento direto da Justiça do Rio.

Em uma tentativa de levantar crédito na praça, a proposta da Delta permite aos bancos antecipar o recebimento do crédito, mas atrela essa possibilidade a um benefício que se volta à própria construtora. A cada R$ 10 em empréstimos novos à empresa, a Delta se compromete a adiantar o pagamento de R$ 2 da dívida com o banco responsável pelo financiamento, independentemente do prazo acertado originalmente. "Posso comentar que alguns bancos já estão abertos a nos liberar novos financiamentos", disse o diretor da Alvarez & Marsal.

Outra parte da proposta, com tratamento diferente pela Delta, envolve a dívida com os fornecedores. "Reconhecemos a necessidade de apoio dos bancos no longo prazo, mas os fornecedores são parceiros para a continuidade das nossas operações", afirmou. Por isso, eles foram divididos em três categorias, conforme os valores devidos. Os fornecedores com crédito menor englobam de prestadoras de serviços, como instalações hidráulicas, a transportadoras. Os maiores são fornecedores de insumos importantes na atividade de construção, como asfalto, pedra e brita. Esse grupo inclui ainda fabricantes de equipamentos pesados.

Os pagamentos aos fornecedores começam a sair em janeiro de 2013. Um conjunto de 900 empresas, para as quais a Delta deve até R$ 100 mil em cada caso e R$ 31 milhões no total, receberá em 12 meses (com desconto de 20%) ou em 18 meses (sem desconto). Outro grupo de 150 empresas, para as quais a construtora tem dívidas entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão, receberá em 18 meses (com desconto de 20%) ou em 24 meses (sem desconto). Essa dívida totaliza R$ 35 milhões.

O cenário mais complicado, entre as fornecedoras da Delta, está na frente de um grupo de apenas dez empresas. Elas têm mais de R$ 1 milhão para receber da construtora, cada uma, e o montante total da dívida alcança R$ 37 milhões. Para elas, a proposta é acertar todo o passivo em 24 meses (para quem concordar com um desconto de 20%) ou em 36 meses (sem desconto).

Em todos os casos, as empresas fornecedoras podem aceitar equipamentos em posse da Delta como forma de pagamento, desde que o volume total não supere o teto de R$ 12 milhões. Com isso, a construtora evita comprometer o andamento das obras que ainda toca e uma nova fonte de receitas: o aluguel, para outras empreiteiras, de suas máquinas.

Outro ponto não deve passar despercebido pelos credores: as dívidas são congeladas, segundo a proposta da empresa, sem nenhuma atualização dos valores pelos índices de inflação.

Se tudo ocorrer conforme os planos da Delta, a assembleia de credores poderá ser realizada no início de novembro, viabilizando a aprovação do plano de recuperação judicial até o fim do ano.

No início deste ano, antes de estourar o escândalo que originou a CPI do Cachoeira e levou à lona o nome da Delta, a construtora executava obras no valor de R$ 220 milhões por mês e empregava 17 mil pessoas. Hoje, depois de todos os ajustes, toca obras de R$ 100 milhões por mês e reduziu o quadro a 8,6 mil empregados. Em julho de 2014, segundo Gomes, ela provavelmente sairá do processo de recuperação judicial com R$ 50 milhões por mês e com um quadro de cinco a seis mil empregados. "Dependerá muito do volume de contratos privados."

Gomes reconhece que ainda falta um longo caminho para tirar do chão a imagem negativa da Delta, mas ressalta o fato de que a construtora já saiu de todos os consórcios nos quais havia possibilidade de ruptura com os sócios - como o estádio do Maracanã e o BRT Transcarioca.

O executivo identifica oportunidades em contratos com a iniciativa privada, o que nunca foi o foco da Delta. "Estamos mudando o nosso DNA", disse. Segundo ele, 5% do faturamento atual tem vindo do aluguel de equipamentos a outras empreiteiras. Outra possibilidade, cogitada para os próximos anos, é prestar serviços de construção às concessionárias que vencerem os contratos de grandes obras previstas no pacote de infraestrutura lançado pelo governo na semana passada.

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