quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Esmaecimento do comércio de luxo na Argentina

Valor Econômico – Empresas -30.08.2012 – B5


Varejo de luxo definha em Buenos Aires

As restrições criadas pelo governo argentino às importações estão fazendo o luxo definhar em Buenos Aires. Alegando dificuldades de oferecer no país as mesmas coleções que comercializa internacionalmente, já fecharam as portas neste ano Prada, Escada, Yves Saint Laurent, Calvin Klein e Polo. No ano passado, já a Armani já havia encerrado atividades. Em outubro, deverá ser a vez da Cartier.

" Buenos Aires hoje é menos promissora que as capitais brasileiras ou Bogotá, Lima, Santiago e Cidade do México", opina o consultor Diego Schvartzman, da MDL, consultora de grifes. "Neste segmento do mercado, a ponta do varejo é essencial e a loja de uma rede dessas precisa ter a mesma oferta no mundo todo. Do ponto de vista de imagem, é muito mais justificável fechar uma loja do que mantê-la aberta com coleção velha", disse.

O mercado de alto luxo na Argentina é formado por importações que foram praticamente inviabilizadas este ano. Desde fevereiro, o governo do país exige a apresentação de uma declaração jurada do importador em que se detalha a intenção de compra. O negócio só é aprovado pelo governo se o importador cumpre certas condições, entre elas a de exportar produtos argentinos.

São poucos os importadores de grifes capacitados para cumprir esta exigência. Foram noticiados este ano apenas dois casos: o da Hermenegildo Zegna, que se tornou exportadora de lã argentina, e o da Porsche, que também exporta vinho.

As restrições cambiais golpearam o setor este ano, mas o mercado do luxo, concentrado na glamourosa Avenida Alvear, no bairro da Recoleta, vive um processo de retração há doze anos. O fim da paridade cambial entre o peso e o dólar, em 2001, jogou o país na maior recessão de sua história, com uma retração de 24% do PIB em dois anos.

Quando a Argentina saiu da crise, durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner, o mercado interno cresceu a taxas próximas a 10% ao ano, mas com um câmbio desvalorizado entre 2003 e 2009, o que tornou os produtos de alto luxo muito caros mesmo para a elite argentina.

A catástrofe econômica também provocou uma mudança cultural do consumidor local: a ostentação que marcou os anos 90 na Argentina passou a ser mal vista e boa parte das lojas abriram filiais na uruguaia Punta del Este, onde a classe alta portenha poderia dar vazão a este tipo de consumo de maneira mais discreta.

O alto luxo na Argentina também foi desestabilizado pela globalização que marcou as últimas duas décadas. No Brasil, a abertura do setor em 1991 gerou um mercado alternativo para as empresas do ramo no continente. "O Brasil tende a conseguir o que a Argentina jamais obteve, que é produzir uma grife internacional de luxo, aceita como tal em outros mercados", opinou Schvartzmann.

Os produtores das grifes internacionais mais exclusivos se caracterizam pela grande verticalização, em que o controle tanto sobre a fabricação quanto sobre a ponta do varejo é absoluto. O investimento mínimo apenas em estoque e decoração de uma loja é da ordem de US$ 1 milhão e a taxa de retorno pode demorar mais de cinco anos.

"A economia argentina não tem porte para arcar com um investimento dessa natureza em outros países. O mercado internacional de luxo é muito diferente do de grifes vendidas em estabelecimentos multimarcas. Na América Latina, apenas no Brasil as empresas tem capitalização para isso", afirmou o consultor. (CF)

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