domingo, 27 de fevereiro de 2011

Melhores vinhos portugueses de 2010

Valor Econômico - Eu & Prazeres - 24.02.2011 -D10

Revistas especializadas elegem os melhores de Portugal Vinhos
por Jorge Lucky

As publicações especializadas em vinhos de Portugal, "Revista de Vinhos" e "Wine - Essência do Vinho", divulgaram, como sempre fazem em suas edições de fevereiro, os melhores do ano anterior em cada categoria. Além de produtores, vinícolas, e pessoas que mais se destacaram em 2010, as duas revistas relacionam os melhores vinhos do período.

A primeira, a mais antiga do setor no país, e agora com padrão gráfico renovado, concede "Prêmios de Excelência" a rótulos que no entendimento de sua equipe de degustadores, "mais se destacaram qualitativamente". A "Wine", por sua vez, especifica e os classifica pela pontuação alcançada, um ranking que vai sendo atualizado ao longo do ano, premiando como "Vinho do Ano" aquele que terminou na liderança. Independentemente dos critérios que ambas utilizaram, as listas são sempre boa referência para saber quem está com prestígio na terrinha e quais vinhos vale correr atrás - daí minha iniciativa de especificá-los em tabela.

Para ser bem honesto, e talvez precipitado, uns dois ou três entre os premiados pela "Revista de Vinhos" não mereceriam fazer parte desse grupo (interesses em jogo?), mas vou prová-los na minha próxima ida a Portugal, em maio, torcendo para ser um devaneio da minha parte e estar equivocado.

No que diz respeito aos melhores em suas categorias, a escolha foi criteriosa, tanto que, fato pouco comum, alguns nomes foram indicados por ambas as publicação, caso de João Portugal Ramos (Personalidade do Vinho), pela "Wine", e Viticultura do Ano, pela "RV", e Sogrape, melhor produtor pela "Wine" e empresa do ano pela "RV".

João Portugal Ramos é uma das figuras mais importantes do Alentejo, tendo, primeiro como consultor, feito um grande trabalho na região, em particular na Carmim, Cooperativa Agrícola de Reguengos de Monsarraz, um modelo no gênero e, a propósito, eleita cooperativa de 2010 pela "RV". Foi deixando a função de assessor à medida que sua própria vinícola ganhou corpo em 1997 (representada no Brasil pela Casa Flora/Porto a Porto).

A Sogrape, por sua vez, poderia se apresentar como maior grupo vitivinícola português, mas o termo "maior" tem uma conotação de "indústria" que não faz justiça ao padrão e dedicação que o grupo impõe a cada uma de suas marcas individualmente. Comandado pela família Guedes, seu corpo técnico é de alto gabarito, com funções e responsabilidades bem especificadas, abraçando as principais regiões do país onde ela está presente, com vinhedos e adegas de vinificação próprios. Compõem seu estrelado portfólio rótulos do porte de Barca Velha e Quinta da Leda, no Douro (importados pela Zahil), os Vinhos do Porto Ferreira (Inovini), Offley (Zahil) e Sandeman (Pernod Ricard), Quinta dos Carvalhais, no Dão, Herdade do Peso, no Alentejo (ambos com Zahil), além dos projetos além mar, caso da Finca Flichman (La Pastina), em Mendoza, Framinghan, na Nova Zelândia (Zahil) e Château Los Boldos, adquirida recentemente no Chile.

Um dos prêmios de maior expressão nas listas das duas revistas sempre é o destinado ao enólogo do ano, função que pela sua grande importância gera enorme expectativa. O escolhido pela "RV" foi o talentoso e competente Francisco Olazabal, o Xito, responsável pelo irrepreensível e altamente consistente padrão de qualidade dos vinhos da Quinta do Vale Meão, propriedade de sua família. Xito, além de comandar o Meão, assessora a Quinta do Vallado (Cantu), de seus primos, a família Ferreira, e de um novo e promissor projeto no Dão, o Munda. Olazabal tem a quem puxar. É neto de Fernando Nicolau de Almeida, uma das maiores personalidades do setor em Portugal no século 20, mentor e criador do mítico Barca Velha.

A "Wine" elegeu o igualmente talentoso António Luis Cerdeira, produtor do Soalheiro Alvarinho (Mistral), uma referência em vinhos do gênero. Seu Primeiras Vinhas 2009, foi considerado "vinho do ano" pela mesma publicação e foi contemplado com o "Prêmio de Excelência" pela "RV". Da mesma região, o Minho, e mestre em trabalhar a mesma casta, alvarinho, Anselmo Mendes recebeu o título de "Produtor do Ano" pela revista.

Acompanhar ano a ano a lista de premiados pela "RV" permite não só ficar a par de quem se destacou durante o período, mas também atentar a quem possivelmente fará sucesso no futuro. E estes muitas vezes começam sendo escolhidos como "produtor revelação" pela "RV". Nas edições passadas, receberam a menção, por exemplo, Vale d'Algares (Premium), do Tejo, Altas Quintas (Decanter), Herdade do Rocim (Premium) e Solar dos Lobos (Mercovino), vinícolas que seguiram se aprimorando e hoje são opções de vinhos seguras para o consumidor sedento por bons (e ainda acessíveis) vinhos portugueses. Não é por acaso que o Solar dos Lobos Grande Escolha, listado na tabela, já tenha alcançado um "Prêmio de Excelência". Diante disso, é bom não perder de vista a Monte da Raposinha, do Tejo, selecionada em 2010.

Como vinhos de mesa e fortificados fazem parte de mundos distintos, com discernimento a "RV" tem por bem separá-los, outorgando prêmios à parte para empresa e enólogo dos dois gêneros. Assim, a vinícola selecionada este ano na categoria "vinhos generosos" foi a J. H. Andressen, uma casa familiar de pequeno porte, fundada em 1845 e nas mãos de portugueses. Apesar de pouco conhecida, a Andressen é cultuada pela crítica por seus ótimos colheitas de mais idade e belos "tawnies".

Singular, ainda, foi a escolha de Ricardo Barbeito, produtor da Madeira, como "enólogo do ano". Não só por sair fora do eixo Vinho Porto-Moscatel, celeiro de ganhadores na categoria, mas também em função de os madeiras serem bem tradicionais e não permitirem grandes inovações. Na verdade, Barbeito não inventou nada, simplesmente se esmerou nos detalhes e na melhoria da imagem desses vinhos, enfatizando, entre outras coisas, seus atributos na harmonização com a comida. Harmonização, tudo a ver. Algo bem diferente de ser lembrado apenas como componente de molhos, aqueles que contribuem para os tão difundidos "filé ao molho madeira".



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Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar