segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mercado de capitais na novela Passione

Valor Econômico – EU & S.A. – 14.12.2010 – D3

A novela e o capital: Companhias abertas incluem participação no enredo em seus programas de marketing.
Bolsa destaca cena de 'Passione' em seu site educacional
Por Ana Paula Ragazzi De São Paulo
14/12/2010

O fato de a novela "Passione" levar assuntos da bolsa para o horário nobre já fez com que a BM&FBovespa colocasse na área educacional de seu site uma cena em que a patroa corrige a empregada que menciona informações desencontradas sobre ações. Aproveitando o gancho, a bolsa fez esclarecimentos adicionais sobre o tema.
Capítulos depois do leilão das ações da Metalúrgica Gouveia, uma personagem mostrava para outra que é possível investir na bolsa por meio de um aplicativo via celular. Na tela do aparelho, aparecia a Itaú Corretora.
Marcelo Duarte, diretor da Central Globo de Desenvolvimento Comercial, diz que a novela mostra uma disputa acionária, o que fez com que o banco que, participa há mais de 25 anos em ações de merchandising de novela, vislumbrasse em "Passione" uma "excelente oportunidade para apresentar a corretora on-line": "A iniciativa foi do próprio banco", diz. O Itaú, que já mostrou também operações via internet e de crédito consignado, não concedeu entrevista. A BM&FBovespa, que nunca anunciou em telenovelas, também não comentou o assunto.
Na hora de definir o merchandising, empresas e TV Globo conversam sobre o produto que será anunciado e, juntas, encontram o melhor núcleo ou personagem em que ele pode ser veiculado.
Quem escreve a cena é o próprio novelista. Silvio de Abreu conta que as cenas de merchandising só entram na história se os autores concordarem. "Ou seja, se eu não quiser fazer merchandising de um determinado produto, não farei", diz.
Não necessariamente o fato de a bolsa estar inserida na trama vai atrair anúncios sobre o assunto. Na avaliação do autor, quanto mais o merchandising estiver adequado à história, melhor, mas a sua função não é dramática, e sim comercial.
Depois da cena entregue pelo autor, muitas vezes as empresas sugerem mudanças até que se chegue a um consenso.
O merchandising dentro do contexto da novela pode custar o dobro do que um anúncio veiculado em seu intervalo, conta Alba Pismel, gerente de marketing corporativo da Cielo.
Ela destaca que essa comparação reflete apenas o custo de veiculação. Na novela, a empresa não tem gastos com a produção do filme, que são da emissora. A Globo informa que o valor da negociação "varia de acordo com a dimensão da mesma, o que torna impossível traçar um comparativo com um comercial de 30 segundos".
A intenção do merchandising, diz Alba, é transpor para a televisão o que está no dia a dia. "A novela é uma obra de ficção que retrata o cotidiano. Então, tudo que faz parte dele, como pagar contas, pode ser transposto."
A Cielo já fez merchandising por meio de uma personagem que vende verduras, no táxi, em loja de roupas e restaurantes. Normalmente, o pacote oferecido pela Globo prevê cinco ações.
"O diferencial é que, quando vê novela, o telespectador não está predisposto a ver um anúncio, o que causa surpresa. Para nós, é uma oportunidade interessante de construção da marca."
Essa é a mesma avaliação da Natura. Por meio da assessoria, a empresa afirma que por meio do merchandising é possível falar de temas mais abrangentes e conceituais, como sustentabilidade, a atividade de consultoria e o vínculo entre mãe e filho, por exemplo. A mensagem, avalia, é transmitida com naturalidade por meio da personagem, diferentemente do comercial de TV, em que a informação é mais direta.
A Natura começou a fazer merchandising em novelas em 2003. As empresas não medem a repercussão específica dessas ações, mas sim de todo o plano de marketing que colocam em prática.

Papel de minoritário é um mix de ficção e realidade
Fernando Torres De São Paulo
14/12/2010
Ainda que os acionistas minoritários da Metalúrgica Gouveia não pareçam muito esclarecidos e espertos - sendo facilmente enganados pelo vilão Fred Lobato a todo momento -, suas cenas na novela das oito da TV Globo invocam temas que estão na ordem do dia do mercado de capitais, como voto por procuração, ativismo societário e problemas de sucessão em empresas familiares.
No início da trama, Fred conseguiu conquistar o apoio de Totó Gouveia, um dos herdeiros do antigo controlador, e também dos pequenos acionistas, que lhe deram procuração para defender seus interesses na empresa. Com o discurso contra a administração familiar da metalúrgica, que passava por problemas de gestão e sucessão, ele conseguiu mudar o comando da companhia.
Na vida real, acionistas ativistas também buscam apoio de outros minoritários para interferir na gestão de companhias abertas e até mesmo conseguem trocar a administração.
Já num dos vários momentos em que a ficção difere da realidade, os minoritários parecem não ter nenhum acesso formal aos números da Gouveia - como balanços e relatórios -, baseando suas decisões apenas em dados e argumentos apresentados por Fred. Suas decisões também se mostram pouco técnicas. Em um capítulo, eles decidem pela venda das ações a Fred na mesma reunião em que a oferta de compra é feita, sem tempo para avaliar a proposta.
Além disso, se a empresa está na bolsa, suas ações não podem ser negociadas de forma privada livremente, o que ocorre apenas em situações excepcionais, com aval da Comissão de Valores Mobiliários e com preços de mercado.
Num ponto, pelo menos, a novela está mais avançada que a realidade: a presença frequente dos minoritários em discussões de temas relacionados à empresa. Esse tipo de participação está longe de ser o ideal no Brasil.

Nenhum comentário:


Registre as histórias, fatos relevantes, curiosidade sobre Paulo Amaral: rasj@rio.com.br. Aproveite para conhecê-lo melhor em http://www2.uol.com.br/bestcars/colunas3/b277b.htm

Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar