terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Bicleta elétrica

Valor Econômico - Empresas - 08.02.2010 - B8

Bicicletas: Ao contrário da França, legislação brasileira provoca dúvidasBike elétrica ganha ruas da Europa, mas patina no Brasil
Marli Olmos e Daniela Fernandes, de São Paulo e Paris
08/02/2010

Bicicletas elétricas surgiram na Europa há dez anos - na Holanda, a frota é de 200 mil e na França, as "com assistência elétrica", são 25 mil
À primeira vista, a ideia parece até romântica. Transporte barato, saudável e ecológico. Deu certo com europeus e chineses, historicamente habituados a pedalar por vias onde também passam veículos com quatro rodas. Mas no Brasil, a bicicleta elétrica ainda esbarra em interpretações vagas da regulamentação. A despeito dessa confusão, fabricantes e importadores acreditam que esse mercado vai crescer.

As bicicletas elétricas surgiram na Europa há dez anos. Na Holanda, a frota já chega a 200 mil. Na França, o número de modelos "com assistência elétrica", como são chamados, gira em torno de 25 mil. Mas o Conselho Nacional de Profissionais do Ciclismo prevê aumento de 70% este ano, como resultado da chegada de novas marcas.

As primeiras bikes elétricas importadas começaram a entrar no Brasil há dois anos. Caso da EcoBike, marca de uma empresa de Novo Hamburgo (RS) que traz o produto da China. No ano passado, a seguradora Porto Seguro procurou a Pro X, fabricante paulistano, e desenvolveu um modelo nacional para seus mecânicos, que prestam socorro nas ruas. Como o produto começou a chamar a atenção, a empresa lançou uma série limitada para venda.

Mas enquanto os europeus têm normas claras sobre o que é uma bicicleta que se move com a ajuda de uma bateria, no Brasil cada um faz a própria interpretação. Se a resolução 315 do Conselho Nacional do Trânsito (Contran), publicada em maio de 2009, fosse cumprida, as bicicletas elétricas teriam que ser licenciadas e só poderiam ser conduzidas por quem tem carteira de habilitação.

A norma já provoca protestos. A Associação Brasileira do Veículo Elétrico encaminhou ao Contran pedido de nova resolução por discordar da decisão de classificar como ciclo-elétricos todos os veículos elétricos de duas rodas. Para a entidade, as bicicletas elétricas foram equiparadas às motonetas.

Pela lei europeia, na bicicleta elétrica a "partida" deve ser feita pela força muscular do ciclista nos pedais. Além disso, o motor deve parar de funcionar quando a velocidade atingir 25 quilômetros por hora e quando o freio for acionado, ainda que o ciclista continue pedalando. A potência não deve superar 250 watts. Também é proibido o uso de dispositivo para fazer a bicicleta avançar sozinha. Fora dessas condições, o veículo entra na categoria ciclo-motor, o que exige um número de placa.

O empresário Ricardo Machado, da Vrooom, empresa do Rio que se prepara para produzir no Brasil uma versão híbrida da Velosolex, modelo europeu que fez sucesso nos anos 70, entende que a resolução do Contran está correta. O veículo que ele promete lançar em 2011 terá dois motores: um a gasolina ou álcool e outro elétrico.

Para Vitor Brock, da Ecobike, o modelo elétrico deve ser classificado como uma bicicleta. Seu produto, diz, atende tanto o estudante que vai para a escola quanto o idoso com dificuldades de locomoção. No início, houve casos de queixas de consumidores que foram parados por guardas que estranhavam o veículo. "Mas agora existe uma tolerância", diz. Por meio da coordenadoria de comunicação, a Secretaria Municipal dos Transportes de São Paulo conclui que pela resolução 315 do Contran, "a bicicleta elétrica está enquadrada dentro da definição de 'ciclo-motor' e não de 'bicicleta', que é veículo movido a propulsão humana". Segundo a secretaria, não cabe a cada município fixar as regras para o tráfego de bicicletas de forma geral, exceto em algumas situações.

Segundo uma fonte da área de legislação do setor, essas exceções criam brechas. "Se a atual legislação já é bem confusa e deficiente em relação à bicicleta tradicional, a evolução para elétrica só tende a piorar a situação", afirma a fonte.

O assunto preocupa profissionais do transporte. Para Marcos Bicalho, superintendente da ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos), uma entidade civil, o problema é o conflito de um espaço dominado por carros e motos. A bicicleta, diz, poderia servir para curtas distâncias; mas, ao não ser fiscalizada, muitas vezes infringe regras, como a contramão. Ao mesmo tempo, é uma solução vista como "simpática" por várias razões. "Dizem que faz bem para a saúde, exceto quando o cidadão morre no trânsito. A elétrica ficará no meio do caminho, entre a bicicleta e a moto, o que exigirá regras mais rigorosas", diz Bicalho.

Peugeot planeja lançar seu modelo no país neste ano
De São Paulo e Paris
08/02/2010

Em Paris há 400 km de ciclovias e em São Paulo são 20 km, com previsão de mais 100 até 2012
A Peugeot estuda lançar bicicletas elétricas no Brasil no final deste ano. O primeiro modelo da montadora começou a ser vendido na França em dezembro e outro lançamento já está previsto para setembro, segundo o diretor comercial Michael Expert.

"Houve uma transformação em relação ao uso da bicicleta. Ela não é mais apenas um acessório de lazer e passou a ser considerada um meio de transporte, um conceito que já existe há muito tempo nos países nórdicos", observa Expert.

Na França, o uso da bicicleta acompanha a evolução do número de ciclovias nos grandes centros urbanos. Em Paris, por exemplo, já existem quase 400 quilômetros de ciclovias e a prefeitura prevê construir mais 200 até 2013. A cidade de São Paulo tem menos de 20 quilômetros de ciclovias fora de parques. O plano de metas do prefeito Gilberto Kassab prevê a criação de 100 quilômetros de vias para bicicletas até 2012.

Na França, um modelo como o da Peugeot, considerado de luxo, custa cerca de € 2,9 mil. Já os da marca Matra, tida como "a Ferrari" desse tipo de bicicleta, podem custar até € 5 mil. Mas as bicicletas elétricas se popularizam no país e podem ser encontradas até mesmo em hipermercados, como Carrefour, com preços entre € 200 e € 500.

A Tecnofast, a empresa do Rio Grande do Sul que importa o modelo chinês com a marca Ecobike, vendeu 2 mil unidades em 2009 e deve dobrar o volume este ano, segundo o sócio da companhia, Vitor Brock. A Ecobike pode ser comprada em sites como Lojas Americanas e Submarino a preços entre R$ 2,4 mil e R$ 2,8 mil. O veículo atinge 25 quilômetros por hora e a bateria, carregada na tomada depois de cinco a oito horas, alcança autonomia de até 40 km. "Imaginamos que seria um produto de lazer para classes mais altas; mas é a classe C que a está comprando para transporte", diz Brock.

A Felisa, modelo da Porto Seguro, é vendida por R$ 2,9 mil (clientes da seguradora têm desconto). A ideia surgiu com a lei que restringiu a circulação de caminhões em São Paulo, que obrigou a seguradora a reduzir o uso dos guinchos. Ao perceber que a maior parte das ocorrências de socorro aos carros se relacionava a baterias descarregadas, a empresa começou a enviar os mecânicos em bicicletas tradicionais.

Porém, a decisão de mudar para as elétricas trouxe alívio a ex-guincheiros que até emagreceram ao circular pela cidade em duas rodas. "Não pensamos na motocicleta porque preferimos uma solução ecológica", diz a gerente de marketing, Tanyse Marconato. Ela própria usa uma Felisa nos fins de semana e afirma que "virou atração". A executiva ainda não se arriscou, porém, a percorrer em duas rodas sete quilômetros até o trabalho.

Na França, para estimular a compra de bicicletas elétricas, a prefeitura de Paris criou um bônus que reembolsa 25% do valor do modelo (o teto do incentivo é de € 400). Há estudos para ampliar o benefício para todo o país.

Também na França, as bicicletas com motor elétrico da Peugeot poderão ser alugadas em concessionárias da marca, inclusive em outras capitais europeias ainda neste semestre. Carros, motos e acessórios serão incluídos no serviço, que funcionará por meio de cartão pré-pago, semelhante ao dos telefones celulares. (DF e MO)



Nunca foi tão fácil pedalar em Paris

De Paris
08/02/2010

Por mais que o ditado popular diga que "andar de bicicleta é algo que nunca se esquece", há uma certa apreensão quando ela é elétrica. Como funciona? Devo pedalar ou não? O que vai acontecer quando o motor começar a funcionar? Essas são algumas questões que atravessam a mente ao segurar o guidão de um modelo elétrico pela primeira vez. Mas passados esses primeiros instantes, a sensação é de que nunca foi tão fácil andar de bicicleta.

Quando o motor é acionado, subir rampas e ladeiras deixa de se tornar um sofrimento. Tudo fica muito mais fácil. Nas superfícies planas, mais ainda. Como a velocidade pode atingir até 25 quilômetros por hora, é possível ter a impressão de que se está voando.

O primeiro modelo desenvolvido pela Peugeot, recentemente lançado na França custa € 2,29 mil, incorpora uma boa dose de tecnologia. Não é preciso pedalar muito para que o motor elétrico comece a funcionar. Um sensor traseiro mede a força que o ciclista exerce sobre o pedal já nas primeiras frações de segundo. Se a intensidade for maior, um sistema calcula a energia necessária do motor para aliviar o esforço do usuário.

A bateria, de lítio, pesa cinco quilos e permite uma autonomia de até 70 quilômetros. A bateria fica na parte traseira, o que permite, graças ao motor a propulsão, praticamente não sentir o peso. Mesmo quando ele não está ligado, o esforço é menor, já que o ciclista "puxa" a bateria enquanto pedala. Outra particularidade é que a transição do sistema normal para o elétrico é suave, sem que o ciclista sofra um "tranco" na hora em que o motor começa a funcionar. (DF)

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Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar